quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Sal

Molhei teus lábios num beijo profundo,
Salgado de mar e doce de ti,
Nos corpos trocados no vil areal,
Dissemos, gritando a raiva ao mundo,
Que o azul oceano onde te conheci,
Era incerto nas vagas do nosso sal.
A espuma que em silêncio me entristece,
Revolta-me e retrocede neste mar,
A nossa força morre em amor proibido,
A madrugada custa-nos mas amanhece,
Na dor das águas límpidas a acalmar,
No tempo em que me quis em ti perdido.

Sal


Molhei teus lábios num beijo profundo,
Salgado de mar e doce de ti,
Nos corpos trocados no vil areal,
Dissemos, gritando a raiva ao mundo,
Que o azul oceano onde te conheci,
Era incerto nas vagas do nosso sal.

A espuma que em silêncio me entristece,
Revolta-me e retrocede neste mar,
A nossa força morre em amor proibido,
A madrugada custa-nos mas amanhece,
Na dor das águas límpidas a acalmar,
No tempo em que me quis em ti perdido.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Nós.


...Naufraguei na enseada do destino,
No mar revolto da tua mansidão,
Onde os nossos sentidos aportaram,
Onde os salva-vidas da maldição
Por mais uma vez se atrasaram.


Os sinos dobram no nosso silêncio,
As mulheres rogam por tradição,
As preces diluem-se na tempestade,
Os demónios dançam na rejeição,
Nas vagas, no vagar da nossa idade.

Tenho âncora, a mágoa fundeada
Ao largo da nossa incerteza,
A lua é a testemunha encoberta
Na nuvem da nossa rara estranheza,

Juíza da tua e da minha vida incerta...

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Nudez.


Sinto-te como a minha vida, vazia.

O teu corpo à espera num imenso nada,

Despido, aguarda sentinela de pele fria,

Da noite que te deixou aqui desnudada.



Na cama desfeita encontrei a tua fraqueza,

Sem encontrar o lugar da tua palidez,

Entendo o nosso abraço de incerteza,

Sobrando em lágrimas a nossa nudez.



As mãos entrelaçam, o beijo acontece,

A raiva morde-me por me trazer no atraso,

Despimos a certeza que a nós nos apetece,

Trocamos de almas por um breve acaso.



Agora que te possuí caio em solidão,

Por não ser só o meu corpo que te quer,

Perco-me todo em juízo na tua imensidão.



Quis que te sentisses outra vez mulher,

E agora devasto-me neste breve amor,

Amando-te nas noites brancas sem te ver.

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Segredo.


Como se fora amor garantido,
Como de engano de mim soubesse,
Dei comigo num passo indevido,
Errado inimigo que me desconhece.


Num pecado feito segredo,
Sou lamento de vida errada,
Encontro-me só, às vezes no medo,
Desconheço-me na esperança de nada.

Escapo-me na solidão de não voltar a ser,
Mais que falso, mais que verdade,
Igual ao amor que não chegámos a ter,
Igual à tua inexistente saudade.


Real, apenas aquilo que já não sei,

Frágil ficção do que quero sonhar,
Saber que tão somente inventarei,
A coragem e o medo de em mim te guardar.

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Marc(a dor).


Marco a dor de nós dois,

Consinto o nosso inflingir,

Consinto que me atraiçoes,

Neste teu breve ressurgir.

És lâmina fria traiçoeira,

E eu, lobo dócil sem matilha,

Que me encantei na ratoeira

Da noite que nos partilha.

Quem dera que fosses a paz,

"Excalibur" sem a vingança,

Quem dera que não fosses capaz

De apunhalar a nossa esperança!

És adaga de Nobre metal,

Forjada na nossa imaginação,

És faca de dois gumes, igual

À tua devastadora intenção.



JMC In Punição (Marcador)

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Lembrança.


Lembro-te com saudade,
De como eras livre.
Lembro-te no chilrear dos pássaros, De como eras meu na poesia,
De como eras adeus,
De quem só ficava, na margem.
De quem sozinho partia.
Lembro-te como eras amigo de quem sente,
Sede de ti, sede de viagem,
De como eras transparente
Nas tuas límpidas águas,
Que mais eram cristal,
De como eras verdade, como espelho, De como às vezes, poucas, eras fatal,
E afogavas em teu leito, as mágoas, Desamparadas sem ponte, sem conselho;
Lembro-te bem,
De homens em ti navegar,
De seres fronteira entre nações;
Lembro as tuas cascatas,
Entre as rochas a murmurar,
Segredos de amantes,
De seres a fonte de inúmeras canções,
Também me lembro de seres receio,
Das tuas águas a subir,
De alagares as terras
Do trigo e do centeio;
Lembro-me de ti a descer,
Por entre a vertigem das serras,
E acabares nas planícies
A espreguiçar teus braços;
Das ninfas que te namoravam,
Dos nenúfares à superficie,
Como jardins suspensos;
Lembro-me de seres amor e traição,
De ter raiva da tua limpidez,
De ser egoísta e querer-te só para mim,
Lembro-me de não ter razão,
Porque eras tu afinal de todos e de ninguém,
Querias correr e abraçar o mar,
Sempre soubeste, ser esse o teu fim.