quinta-feira, 16 de abril de 2009

Anjos.


Estivemos longe, num amor ausente,
Andámos sós, por entre a multidão,
Hoje temos a vida à nossa frente,
Não temos mais a nossa solidão.
*
Sentes a chuva de prata na tua face?
Sentes a brisa que nos chega do mar?
São as testemunhas do nosso enlace,
São os Anjos que nos vêem procurar.
*
São pelas estrelas do céu enviados,
Para nos deixarem o amor a sorrir,
Sentem os nossos beijos desejados,
E o nosso filho que está para vir.
*
Trazem-nos a luz que já nos faltou,
Nos caminhos em que nos perdemos,
Lugares onde eu nunca mais vou...
Procurar quem nunca conhecemos.
*
Temos um sorriso em cada momento,
Olhares sem limites, ou qualquer fim,
Nós os dois somos um só sentimento,
O que te dou a ti, o que me dás a mim.
*
Agora já podem os Anjos um dia partir,
Já as nossas almas estão entrelaçadas,
Que a solidão não vamos mais sentir,
Nem as nossas vidas desperdiçadas.

Dia seguinte


Esta é uma história que oiço sobre ninguém,
Está aqui descrita por um nobre ancião,
Velho e parco nas palavras de desdém,
Sujo e andrajoso no caminho da escuridão.
*
Já não lembra que esteve nos dias de glória,
Nem ouve suas crianças e mulher a chorar,
Sem lápides ou cemitério, sem sua memória,
Lágrima não cai, só tempestade que viu chegar.
*
Eu também vou suplicar por uma nova era,
Vou ajoelhar-me perante estes jovens deuses,
Erguendo meu olhar aos céus desta quimera,
Enjaulado no futuro, não vivendo por vezes.
*
As nossas almas são sombras brancas serenas,
As correntes quebro-as, grilhetas de sorte comum,
Os loucos no arco-íris, à espera de nada, apenas
Liberto-me do meu corpo, morro em lado algum.
*
Os dias seguintes virão em chamas aclamar,
Receio que não vá mais ouvir os velhos magos,
Dos padres perversos a minha alma quero levar,
Cínicos no hábito, ou hipócritas desabituados.
*
São o mesmo, os teus reis e os meus vagabundos,
A crença está apenas em vil pergaminho escrita,
Fugitivos sem aventura, terminam os mundos,
Assassinos, são o caos determinado em desdita.
*
Anjos negros, montados em corcéis de negrume,
O que conheço perece, o que esqueço é agonia,
Rastejo mortalmente por entre rasgos deste lume,
Vence o caos, ganha a lenda que leva a melancolia.
*
Sinto os risos sarcásticos da minha juventude derrotada,
Já não consigo enraivecer, desfaleço no ódio dormente,
Adormeço o destino, por último piso a terra queimada,
Abraças-me enquanto morro nos teus braços indiferente.
*
Dead Body 1986

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Cumplicidade.




Encontrei-me em ti, numa noite que foi pequena,
O silêncio foi tormento, o teu olhar foi a minha cor,
Meu corpo tremeu, as minhas mãos perderam-se,
Fomos ao firmamento em nossa viagem serena,
Voltámos crianças, perdi o medo, rimos do amor,
*
Fizemos caminhos, enquanto crescemos lado a lado,
Criámos atalhos por onde podemos vir a espreitar,
Demos as mãos, demos um filho que nós queremos,
À vida dissemos que não receasse o que nos tem dado,
Dissemos ao destino que é lá que nos vamos encontrar.
*
Existiu um acaso luminoso que finda em arco íris,
Seu começo é onde tu e eu nascemos cumplicidade,
Sabendo quase nada, querendo saber quando chegar,
As horas e o tempo são agora como eu sempre quis,
E tu és a mulher de quem eu sempre tive a saudade.
JMC In Redenção

terça-feira, 14 de abril de 2009

Vaguear.

Enquanto vejo lá fora a chuva que teima em aqui cair,
Lembro-me como era antes de te conhecer, antes de sorrir,
Onde ficavam as minhas incertezas e o não te conhecer,
Esse tempo já faz parte do passado, não quero mais saber,
Algum dia tinhas de ficar ao meu lado, algum dia seria.
*

Vaguear, não o vou mais fazer, não vou sequer me lembrar,
Vou amar-te para sempre, contigo vou dar a volta ao mundo,
Dou Graça(s) por me teres encontrado, por eu ainda aqui estar,
Vaguear, não sei já o que isso é, não sou mais um vagabundo.
O tempo corre a nosso favor, incrivelmente assim tão devagar,
E eu vou dar-te aquilo que eu nunca te dei, assim por eu te amar.
*
Um conto ou um pequeno feitiço, algo assim aqui aconteceu,
As certezas agora sei que existem, são como dias de sol, reais,
Agora quero-te como sempre te quis, agora ainda te quero mais.
Vou estar sempre aqui ao pé de ti, dar-te o que ninguém te deu.
Vaguear, fui por caminhos que não me levaram a lado nenhum,
Foste tu que me encontraste aqui, onde estava sem um sentido,
Dou Graça(s) por tu me teres acordado de um sonho perdido.
*
Vaguear, não quero nem saber, nós os dois sempre fomos um.
És tu que reinas agora nos meus sonhos, és tu quem eu sonho.
És tu quem não sai mais da minha vida, és tu quem eu amo.
Vaguear, não quero nem saber…

O Sonso...comum...



Existem em todo o lado, às vezes, também nós caímos nessa vil tentação, de não perturbar, de não incomodar, de deixar passar em claro, situações, pessoas, para não ferir susceptibilidades, de não magoar, de não arranjar guerras.... Ora bem, hoje como acordei com a minha susceptibilidade aflorada, vou deixar aqui bem explícito, para os bons, maus e entendedores assim assim, que a minha tolerância nem sempre é de valor ou prazo ilimitado. Existem pessoas que dizem frontalmente que padecem de mau feitio. Umas têm e utilizam-no. Outras têm e não fazem uso dele regularmente, outras dizem isso e afinal era apenas uma defesa... Eu tenho o meu feitio. Reconheço que devido a esse meu feitio não tenho sido uma pessoa fácil, mas se eu quisesse isso, uma vida fácil, teria enveredado pela prostituição... Nunca me dei bem com a falsidade, mas hoje em dia, temo reconhecê-la mais facilmente que a aparência...principalmente a de um sonso... Prefiro enfrentar uma pessoa má a uma manhosa, a uma dissimulada ou com ares de aparência ingénua... Por razões meramente circunstanciais, não costumo dar crédito a frases feitas, ou cair noutra tentação absurda de comparar situações ou pessoas com provérbios, aliás gosto sempre de lhes dar outro caminho, utilizando para isso outras frases tão absurdas como a original. Lá dizia o outro, em terra de cegos quem tem olho não é rei, é zarolho... por isso gosto de me identificar como...sou maluco, mas não sou estúpido...nem pouco mais ou menos... A minha actividade profissional, desenvolve-se na área comercial, e aboli por completo a frase, O cliente tem sempre razão?!?...Falso!!! O cliente quando não tem, tem de ser confrontado com isso! Passando à frente, não sejam sonsos, sejam, bonzinhos, sejam mauzinhos, mas sejam verdadeiros...mesmo que a vida vos tenha transformado em frustrados ou desiludidos. Eu assumo, tenho as minhas frustrações, já tive e provavelmente voltarei a ter algumas desilusões...mas nunca serei um sonso, e espero ter sempre clarividência para os conseguir identificar...O senso comum adquire-se, o sonso comum incomoda... Se não quiserem dizer aquilo que são, ao menos estejam calados...ao menos não ameacem, façam-no mesmo...Os suicídios verdadeiros, são sempre uma notícia fatal, nunca um anúncio...do que pretendem fazer...até lá vou apelando a minha paciência...

terça-feira, 7 de abril de 2009

Hoje


Hoje eu sei porque sinto dias melhores,

Compreendo o cheiro da tua terra molhada,

Sei que a brisa me traz noites maiores,

Cumpridas em doces carícias,

Hoje eu sei o que é a paixão acordada.

*

Hoje eu sei porque te tinha inventado,

Sem tu saberes, que eras asa de desejo,

A vida sobrou-me por ter-te encontrado,

Deixou-me tempo, deixou-me...vida,

E hoje reconheço-me no que em ti vejo.

*

Hoje é dia, é noite que inicia a madrugada,

Hoje iluminas o meu querer, o meu estar,

Foste ontem sem eu saber, apaixonada,

És hoje outra vez, sem ser apenas uma,

Sem ser só amanhã no amor por inventar.

*

Hoje tenho este amor e quero-te semear,

Quero-te como minha doce seara constante,

Plantada na planície, deixa-me aqui ficar,

Onde o sol nos aquece a paixão,

Onde queremos deixar o passado distante.

JMC




sábado, 4 de abril de 2009

Passos


Os teus passos firmes no chão do nosso caminho,

Os meus que os acompanham sem ter de te seguir,

São seguros depois do tempo em que fui sozinho,

Procurar por ti nos passos em que não vou desistir.


*


Hoje são passos que conhecem a nossa direcção,

Mesmo descalços nos nossos pés desnudados,

Caminham, deixando pegadas no mesmo chão,

Por onde estes caminhos nunca foram pisados.


*


Hoje eu não receio onde eles nos podem levar,

Sei que iremos nós os dois sentir este trajecto,

Quero reconhecer as tuas marcas nesse andar,

Quero dar contigo o passo que seja mais certo.


*


Pisámos espinhos que deixámos no passado,

Deixámos um rasto de nós na areia molhada,

As marés foram generosas deixando apagado,

O rumo que vinha na dor da nossa caminhada.


*



Dedicado a ti, Buterfly Purple!

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Fogo inesquecível.


Sinto o flamejante olhar que se repete,
Sinto-te pele da minha pele, quente,
Fogo-fátuo que sem lugar nos promete,
Fogo sem dono, que nos morde devagar,
Não sei da arma de fogo que não sente,
Nem dos homens que me vieram acabar.
*
Acendemos longe aquele fogo de artifício,
Mesmo assim ele vem cercar-me a alma,
Montado no gélido e tempestuoso vento,
Passageiro que se extingue no sacrifício,
Irmão qualquer de chama que nos acalma,
Filho bastardo de um inesquecível tempo.
*
Conheço o demónio que em si o guarda,
Desconheço-me rebelde nas rubras chamas,
Não esperei em vão por um dia que me tarda,
Debrucei-me no abismo sem nunca cair,
Enquanto as lágrimas tuas que me amas,
Caem pétalas púrpuras na luz do meu sorrir.
*
Pego-me a ti, num fogo inesquecível,
Num fogo sem rédea, sempre que tu vais,
Amamo-nos neste olhar, neste sem querer,
Faço-te a minha única e chama impossível,
Neste vil banquete onde se acendem castiçais,
Apagam-se fogos que não deviam nunca arder.
*
Vemos o último fogo inconsequente e sagaz,
Cobardemente caído em cinza que eu mereço,
Mesmo incessante de tudo e de nada capaz,
Nos braços ténues que em seu lume eu nasci,
Entendo-o agora, ao passado a que não pertenço,
Vens tu comigo porque foi por ti que me acendi.
*
Incendeia-me quando e sempre me quiseres,
Acorda-me e deixa-me aos teus lábios eu dizer,
Que eu existo neste nosso fogo novamente,
Onde chamas já não são receio de me perderes,
Onde não existe mar que separe nosso querer,
Onde se acende este fogo que arde para sempre.
*
JMC In Redenção

terça-feira, 24 de março de 2009

Message in a bottle


Este ano pretendo lançar ao mar uma mensagem dentro de uma garrafa, como os antigos náufragos...
Para a maioria das pessoas pode ser uma ideia completamente disparatada, para mim não é! Pretendo, e já tenho uma ideia de enviar um texto com uma mensagem, só não sei se a vou dirigir a alguém em particular ou ao "mundo" em geral. Sei que corro o risco de cair no rídiculo, sei que a garrafa pode acabar por subir numa maré pelo rio Tejo acima e encalhar na porcaria do rio Trancão. Ou durante o Verão que se aproxima, eu estar a pescar numa qualquer praia do Alentejo e...
Enfim vou correr esse risco, até porque tal como de loucos, de náufragos todos nós acabamos por ter um pouco...e este mundo afinal com cada vez mais a aumentar a população deixa-nos tantas vezes sós...
Gostaria de saber se alguém quer "participar" dando-me uma ajuda a escolher o feitio e a cor da garrafa, a qualidade da rolha, outro tipo de mensagem e ou a quem gostariam de a dirigir.
Estive a estudar algumas corentes e marés e desde já vos digo que as probabilidades de a dita cuja ir parar países como a Venezuela, Cuba e Estados Unidos, são enormes...

sábado, 21 de março de 2009

Marc(a)dor


Desde sempre que tens estado aqui ao meu lado,
Caminhaste comigo sem eu por aqui te querer,
Não segui símbolos, crenças ou meras ideias,
Segues-me, ignorando que eu deixei o passado,
E marcas-me como se eu assim quisesse viver,
Dentro de mim, como sangue em minhas veias.
*
Vou por uma estrada que tem o tempo calado,
Atravesso um deserto, chão de areias vermelhas,
Os abutres flutuam no vento, silenciosos agora,
Esperam por um farrapo de um ferido soldado,
Enquanto se abeiram cínicas e sentinelas velhas,
Tenho de te acabar, eu tenho marcada uma hora.
*
Não vou deixar que venhas mais atrás de mim,
Vou trocar a máscara e esconder-me incerto,
Mesmo sabendo que a vida vá sem um retorno,
Ofereço a alma penhorada a quem me dê fim,
Talvez não desistas, talvez fiques por aqui perto,
Eu só quero saber se a morte aceita um suborno.
*
JMC In Redenção
O marcador do meu 3º livro

sexta-feira, 20 de março de 2009

Com' Out


Segundo um artigo no jornal Público da última sexta feira, a primeira e única revista em Portugal, dirigida explicítamente a um público homosexual, após 8 números mensais, foi suspensa pela sua editora.
A razão principal por esta decisão prende-se pelo facto de não existirem neste momento em Portugal verdadeiros apreciadores e compradores da citada revista.
Ao fim deste tempo de edição, mantinha fiel apenas 150 assinantes?!? e uma média mensal de 2000 vendas.
Outras razões ou justificações prendem-se com facto de nos pontos de venda, este público ter receio de se "mostrar".
Outra "deficiência" prendia-se com a sua distribuição não ser feita em centros de menos densidade populacional.
Aqui ao lado, em Espanha, a revista Zero, do mesmo carácter, tem uma tiragem de média mensal de cerca de 50000 Exs. Será que o velho ditado lusitano que afirma... de Espanha nem bons ventos nem bons casamentos... ainda prevalece?
Deixo aqui algumas questões sobre este assunto.
A comunidade gay em Portugal, afinal ainda não saíu do "armário"?
Existem afinal, receios fundados que a descriminação ainda tem assim tanta força na sociedade portuguesa?
A Hilga e a Opus Gay afinal são dois clubes onde apenas se joga à sueca?
A parada, a que alguns se lembraram de chamar de PortuGays, afinal não passa de um corso de carnaval fora de época?
O chamado loby gay que muitos afirmam existir em Portugal, afinal não passa de mera ficção?
A crise que chegou a uma série de publicações também atingiu este público alvo?

terça-feira, 3 de março de 2009

Ausência.



Já não te reconheço neste lugar,
Nem à doce mentira da manhã,
Que me dizes na dor da tua traição,
Digo não ao teu absoluto desejo,
Redentor da tua mórbida ilusão.


É ávida a cobiça que te apraz,
E que nos consome a liberdade
De todos nós, eu que não fui capaz,
Do aviso, na minha voz dormente,
Feita silêncio contra a minha vontade.


São teus preferidos os incautos,
Os fracos que moram na inocência,
Os que lutam como teus arautos,
Libertando a revolta dos sentidos,
Apregoando a nossa inexistência.


Tens a vantagem de não sofrer,
Porque não sentes a noite a chegar,
Porque não alcanças a vida
Dos que bebem a sofreguidão,
E a ínfima vontade de não voltar.



Tens os teus demónios por soltar,
Chacais famintos por corpos caídos,
Tens sacerdotes para te absolver
Dos pecados que vamos encontrar,
No entretanto em que ficamos feridos.



JMC In Punição

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Sexo com robots...


Sexo com robots será possível neste século, diz escritorFazer sexo com uma mulher fatal electrónica ou com um robot superdotado e conversar com o parceiro depois ainda este século não é uma ideia tão despropositada como pode parecer, de acordo com o autor de «Sexo Com Robots: A Evolução das Relações Entre Humanos e Robots». Para David Levy, o robot sexual Gigolo Joe, interpretado por Jude Law no cinema e criado para dar auxílio emocional, além de prazer sexual, poderá tornar-se algo real dentro de 40 anos, tendo em conta os progressos realizados na reprodução dos músculos e dos movimentos humanos, ou na inteligência artificial, na imitação de emoções e aspectos da personalidade.
Em Novembro do ano passado, investigadores da Universidade de Waseda, no Japão, apresentaram um humanóide que sabe cozinhar e utilizar as mãos, banhadas em silicone, para interagir com os humanos.
Outra empresa japonesa, a Axis, também já fabricou aqueles que poderiam ser considerados os primeiros robots sexuais.
As Honeydolls são bonecas de resina e silicone em tamanho real, equipadas com sensores ligados a um som. Mas as mulheres, no futuro, também se deixarão tentar pelos robots sexuais, o que representará, para o autor, uma vida sexual sem sentimento de culpa e livre do contágio de doenças sexualmente transmissíveis. Contudo, nem todos concordam com a visão de «sexo 24 horas por dia» de David Levy, já que não acreditam que «os robots possam ser parecidos com os humanos nesse aspecto, em tão curto período de tempo». O programador do cérebro do cão robótico Aibo, Frédéric Kaplan, acredita que as interacções entre máquinas e humanos «não são interessantes em termos de simulações de relações humanas».
Parece descabido pensar que os seres humanos se possam relacionar com robots», afirma a sexóloga norte-americana Yvonne K. Fulbright, embora reconheça que esse tipo de máquinas tenha um lugar no mercado. Contudo «as pessoas sentir-se-ão frustradas se esta for a sua única solução», concluiu.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Maldição.


Quando a viagem chega ao limite,
Quando o recomeço aqui tropeça,
No soluço da vida que não nos admite,
A redenção que menos nos interessa,
É aquela que não choramos na partida.
*
Na revolta que desejava um regresso,
Ressurreição num corpo emprestado,
Recordamos um final que jaz inverso,
Inerte físicamente, assim infortunado,
Alma nova e clara de um prazer adverso.
*
Anátema conjugado em nos terminar,
Transparente, princípio e uma certeza,
Um só momento, curto para nos chorar,
Longo o sentimento de uma tristeza,
Maldita por nos sentir sem nos tocar.
*
A revolução é uma sombra que se apaga,
Os sentidos, ténue luz e reflexo sem olhar,
O castigo e a tortura é mão que nos afaga,
Deixando-nos sem corpo para sonhar,
Semente de um mal, princípio de praga.
*
JMC In Punição 2007

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Adiantada?

Um diálogo entre duas mulheres de certa idade, na rua, por entre a azáfama das compras neste último Natal.

A primeira, tropeçando na outra que se colocou à sua frente, provavelmente sem querer...

Olha o raio da mulher parece que é parva, hein?

Resposta da segunda... Olhe você está muito adiantada sabia?

Pergunta a primeira muito admirada com aquela observação... Adiantada?

Eu?

Porquê?

Resposta da segunda... Porque eu pareço e você já o é!

Resta-me dizer que a segunda senhora tem "apenas" 86 anos e é a minha mãe...

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Ainda outros factos reais. Parte III

Habitualmente nesta altura fazem-se balanços e colocam-se em relevo os factos que mereceram maior destaque durante o ano que está a terminar.
Para alguns de nós existirão factos que nos deixaram boquiabertos, outros nem por isso. Para a Manuela Moura Guedes qualquer um serve para a deixar nesse estado...
Na minha opinião existiram alguns demasiado relevantes, com sequelas irreversíveis na minha personalidade e provavelmente na minha forma de estar num futuro próximo. Um que me deixou particularmente abalado e praticamente sem esperança na paz entre os homens de boa vontade e de pés lavados neste mundo bizarro foi o episódio da bota iraquiana...e nas consequências que poderiam ter advido daí, se ambas(porra logo as duas) não errassem o alvo... Provou-se que todos os Bush têm sorte, ou reflexos, ou será mesmo má pontaria dos jornalistas quando querem “atingir” alguém? No meio deste chulé todo, não só todo o alarde em torno da notícia, mas o pivete mesmo, consegui tirar algumas ilações, conclusões e criar algumas confusões no meu casco cerebral, que últimamente só tem servido para albergar o Tico e o Teco deste frio Invernal. G.W.Bush acabou o mandato quase da mesma forma como o começou, com a razão do seu lado, de que afinal existiam armas (de arremesso) de destruição massiva no Iraque, contrariando assim a opinião pública( e a minha também) que o dava como um grande safado. Será por esta e outras razões que os EUA são grandes? Ou demorámos a perceber que talvez por isso eles tenham o Gates e nós o Portas...se calhar cada um tem o que merece...
O que é sabido e ficará para sempre gravado nos anais(não gosto muito desta palavra, lembra-me sempre o plural de qualquer coisa que não me cheira bem...) da história é que em 2008 existiu um gajo com cara de aparvalhado, com uma “vaca” do caraças ou não...sendo assim, este assunto levou-me a elaborar uma lista das eventuais personagens que eu acredito, que nunca teriam essa sorte e levariam com o chulé pelo menos uma vez nas trombas ou noutro lugar qualquer...
Fidel de Castro seria um, porque adormece habitualmente a meio dos discursos.(isto se entretanto não adormecerem os jornalistas) Xanana Gusmão, outro, porque discursa de olhos fechados. Bill Clinton por ser apanhado provavelmente com a calças em baixo. Hillary Clinton por ter de estar sempre com um olho no Bill. José Luís Zapatero, pela analogia do seu nome deixou-me algumas dúvidas, confesso. Cavaco Silva, nesta altura do ano costuma ser apanhado a comer bolo rei. Robert Mugabe por merecer e por dever uns anos à cova. O Papa Bento XVI, talvez por acreditar em milagres, não se mexesse. Paulo Bento por andar à muito tempo a pedi-las. O Emplastro porque sempre se mete atrás ou à frente de qualquer coisa. Amy Winehouse...por razões óbvias, não sóbrias...claro. Marques Mendes mas só se discursasse sem palanque à sua frente... Acho que a Fátima Felgueiras para não estragar o laqué também não arredaria pé. Cláudio Ramos por estar de cú para o ar... A Maya porque decididamente não acerta em nenhuma das previsões que faz. O Vladimir Putin porque (Deus e a mãe dele me perdoem) é um grande filho de Putin.... Alberto João Jardim porque se não for assim nunca o atingem... A mulher do José Castelo Branco por ter um grau de senilidade bastante avançado. Qualquer grande metragem do Manoel de Oliveira...Ou romance de Agustina Bessa Luís...
Perante isto acrescento que quem inventou o pão com chouriço foi um “chouriço” qualquer...que a Faixa de Gaza com tanto bombardeamento e tiroteio vai passar a chamar-se Faixa de Gaze... José Castelo Branco está interessado em candidatar-se a presidente da Junta de freguesia desta localidade, http://photos1.blogger.com/photoInclude/blogger/1938/3852/1600/picha.gif vá lá saber-se porquê...
Como tenho a mania das trilogias...dou assim esta por encerrada.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Insanidade.



Vivo no dia em que sinto a alma a trocar-me de corpo,
É este o mesmo dia em que me encerro sem fronteiras,
Sem vontades, ou no respirar de quem chamei de louco,
Sentindo a estranheza de viver no lugar de um morto,
Ou simplesmente ir definhando por já me querer pouco.
*
Já de nada me serve esta porta que mantenho fechada,
Ela sairá invisível, volátil em tempo que me é negado,
Sem preces ou julgamentos e sem uma mera revolta,
Provável insana, bestial enquanto foi cárcere doirada,
Rasgando os sentidos, deixando a minha morte à solta.
*
Não existe domínio, apenas meu ténue esquecimento,
Já não me evita a aproximação à minha demência,
Já a reneguei, estou despido deste preconceito voraz,
Sou nada e não me importa a memória do fingimento,
Sou homem que tudo fez por viver numa vida incapaz.




JMC In Redenção

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

O melhor amigo do homem.


Para quem ainda tinha dúvidas sobre quem é realmente o melhor amigo do homem, eu descobri à pouco, depois de um exaustivo estudo , uma história que coloca em definitivo o animal cão como sendo o eterno e fiel amigo do homem, deitando por terra qualquer eventual ideia de colocar a mulher à frente deste animal. Reconheço que algumas "cadelas" em ocasiões especias o sejam também, assim como alguns cães de raça lambéconas o consigam ser entre alguns meios femininos. No entanto, perante alguns factos não existem mesmo qualquer espécie de argumentos. Senão vejamos;

Experimentem fechar na mala do vosso carro durante aproximadamente 3 horas, um cão qualquer, pode ser o vosso, o da vizinha que vos rosna quase sempre que vos vêem a passar, ou até mesmo um vadio. Juntamente com este cão juntem a vossa namorada, aquela tia chatarrona que chega da terra sem avisar, a esposa, a sogra ou até mesmo a tal vizinha, dona do cão que vos rosna todos os dias. Ao fim destas 3 horas abram a mala...Qual será deles dois, em matéria de probabilidades claro, o que irá levantar as orelhas de contentamento e eventualmente vos aparecerá a abanar o rabo por voltar a ver a luz do dia?
Tinham dúvidas?

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Inquietude, Prólogo.

Este é o Prólogo do livro que mencionei no blog anterior.


Prólogo
A tarde aproximava-se do fim, naquele dia de Janeiro. O céu continuava num azul frio e limpo e no horizonte o sol majestoso dava sinais de começar a sucumbir à noite.
Sentado no alpendre, sobranceiro ao vasto e bem tratado jardim, Afonso olhava em redor, como se procurasse algo perdido. A relva estava bonita, cortada rente e verdejante. Ainda a reflectir os últimos raios de sol, cintilantes gotículas de água brilhavam nas suas esguias e curtas folhas. Tinha acabado de regar o jardim. Esta seria a última vez que o faria, tinha essa certeza. Das folhas das pequenas palmeiras, plantadas simétricamente, embaladas por uma suave brisa, escorriam pequenas gotas de água, parecendo-lhe lágrimas, assim como o suave balançar das folhas lhe parecia um adeus final e um agradecimento profundo e sentido por tudo o que fizera por elas nos últimos meses.
Puxou de um cigarro, acendeu-o e seguindo o fumo que se erguia no ar, sentiu algo estranho e ambíguo, um misto de tristeza e de alegria. Tristeza por saber que seria a última vez que estaria ali, tinha de se esquecer daqueles nove meses e meio, que lhe tinham trazido imensos desgostos e mágoa, e o facto de não querer recordar nunca mais isso, deixava-o visivelmente incomodado. Alegria por sentir finalmente, depois da sua decisão algo apressada mas ponderada vezes sem conta, que estaria livre de um pesadelo. Do outro lado do jardim, no pátio de saibro claro, virado para os portões completamente escancarados, permanecia o seu carro com o motor ligado, como se estivesse preparado para uma fuga rápida, depois de um assalto ou de outro crime qualquer. E era isso mesmo que estava em curso, uma fuga rápida, carregado com os seus haveres mais pessoais e íntimos, aquilo que habitualmente depois de uma catástrofe ou cataclismo, se consegue recolher, alguns despojos de guerra, isso uma guerra, aliás duas, a que terminava e a outra que se avizinhava, talvez tão cruel nas consequências como a primeira que terminava ali, naquele momento.
Os bancos de trás, bem como o da frente, estavam repletos, iria ter uma condução um pouco desconfortável, nos cerca de oitenta quilómetros que o separavam da casa dos seus pais em Lisboa.
Era para lá que tinha planeado voltar, para casa dos seus pais, por um tempo indeterminado pois também eles nunca tinham depositado muitas esperanças naquela relação, e já se tinham oferecido para o poder recolher em sua casa se alguma coisa não corresse bem. E de facto as coisas não tinham corrido bem, antes pelo contrário, correram sempre mal e tinham-se agravado nos últimos dias. Esta não era a primeira vez que tinha tentado sair. Recordava-se de todas as outras, treze para ser mais exacto, e não era simplesmente sair, era mesmo fugir. Escapar de um relacionamento mórbido, onde o ciúme doentio e amplamente sórdido, imperavam. Imposto por alguém que agora comparava e via como uma psicopata. Alguém que não tinha conseguido nem viver uma vida própria pacificamente nem estar em paz com ele.
Nas outras vezes, quando o tentou fazer, não estava sozinho como agora, nunca tivera a oportunidade que lhe surgira nesse dia, por isso mesmo, na semana anterior, tinha avisado os seus pais que se preparassem para o receber, pois era sua intenção levar a cabo essa fuga na primeira vez que surgisse uma oportunidade para o fazer.
Surgira essa hipótese, Afonso sabia que talvez fosse mesmo a derradeira e única, sabia que se não a aproveitasse iria arrepender-se para o resto da vida.
O cerco fechava-se, sufocando-o dolorosamente, afastando-o dos mais elementares simples gostos e prazeres que ele tinha pela vida. Já quase não tinha amigos e os poucos que conseguira manter, nunca deram muito crédito à sua manifesta e inconsolável tristeza. Portanto só lhe restavam os seus pais, os únicos que viram nas poucas vezes que estivera a sós com eles, a sua amargura, a sua vontade em desistir de tudo, inclusive da vida, tal era a infelicidade que Afonso mostrava.
Durante esses breves momentos de recordação da sua infeliz existência, dera conta que o seu telemóvel, que mantinha no bolso do casaco, tinha vibrado várias vezes, até lhe perdera a conta, não precisava de o atender para perceber quem estava desesperadamente a tentar falar com ele, sabia perfeitamente que Marta “sentia” que algo estava para acontecer e não era bom, para ela. Há já alguns meses que tinha retirado o som do telefone, pois era manifestamente insuportável o que ela lhe fazia, vinte, trinta chamadas ou mais por dia, e nos dias normais, pois tudo piorava nos outros dias, em que dela se apoderava uma estranha e doentia obsessão, ao ponto do cargo que desempenhava na sua empresa se encontrar em risco. Exercia uma chefia na área comercial, tendo chegado a abandonar clientes em reuniões, adiar projectos profissionais, a abdicar de viagens de negócios, não só pelos insistentes telefonemas, mas também por diversas vezes ter de efectuar um regresso a casa, mais ou menos atribulado, ou pura e simplesmente não poder sair de casa, pelas mais absurdas razões.
Determinado, desta vez não iria voltar atrás, como de todas as anteriores, não iria cair na chantagem emocional de quem muitas vezes tinha chegado a simular inclusivé o suicídio, provocando falsos desmaios, após supostamente ter ingerido uma lamela de comprimidos, espumando da boca, trancando-se muitas vezes na cozinha, com o gás aberto, dizendo que se matava e ameaçando de faca em punho cortar os pulsos se ele saísse da vida dela. Ou escondendo as chaves dos portões de ferro, que o deixavam encarcerado na propriedade em que viviam completamente isolada, e que se encontrava a um bom par de quilómetros da mais próxima povoação, Salvaterra de Magos.
Envergonhava-se de si próprio, por não ter tido coragem até aí de o ter feito mais cedo, pois sempre tinha sido uma pessoa destemida e determinada, sem receios de enfrentar fosse o que fosse, sempre tinha corrido riscos, é verdade que alguns calculados, mas sempre sem grande medo ou receio, mesmo os riscos que muitas vezes nos levam à infelicidade. E os que tinha corrido para ser feliz ao lado de Marta teriam assustado qualquer um, pois tinha a perfeita noção que o que decidira nove meses e meio antes, deixar uma vida confortávelmente alicerçada na cómoda mas instável situação de recém divorciado, tinha sido uma das mais difíceis de que se recordava.
Bom, mas isso agora iria fazer parte de um passado, doloroso e recente, com indisfarçáveis cicatrizes, mas para ele já estava a fazer parte do passado.
À sua frente, no muro alto que circundava a propriedade, pousou um corvo?!? Mau agoiro? Não achou que o fosse, apenas sentiu uma fria estranheza, sem chegar a ser uma grande admiração, pois o que se tinha passado por ali, o que lhe tinha acontecido nos últimos tempos já não o deixava ficar incrédulo, ou mesmo admirado, ainda assim, pensou por breves instantes naquilo que Marta lhe costumava dizer de cada vez que viam um corvo negro, um corvo sozinho era sempre sinal de um mau presságio. Talvez Marta lá no seu negro e maldoso íntimo tivesse razão, Afonso agora gostava que isso fosse verdade, entre outros, podia ser que fosse um mau sinal mas apenas para Marta. Desta vez iria deixar de o ver em definitivo. Esse instante foi tão breve como a presença da mórbida e negra ave, nesse preciso momento em que ambos pareceram trocaram um olhar, como se tivessem reconhecido e comparado a sua incontornável solidão. O corvo depois de um grito arrepiante e curto grito, levantou voo, e enquanto via o negro a desvanecer-se no céu, levantou-se, olhou por uma última vez em redor, o jardim estava lindo, e Afonso sentia um pequeno orgulho, não apenas pelo esforço e meses de trabalho, mas por ter feito renascer aquele jardim, que conheceu moribundo e abandonado quando ali chegara. Despediu-se como se de uma pessoa se tratasse, apagou debaixo do tacão do seu sapato, com indisfarçável nervosismo o que restava do seu cigarro e sem olhar para trás dirigiu-se ao carro, sentou-se, suspirou, deixou que um sorriso interior de efémera felicidade o invadisse. Subiu o volume do rádio e arrancou com velocidade...
No seu olhar, um brilho entrelaçado de raiva e de angústia quase não o deixava ver pelo espelho retrovisor os escancarados e pesados portões de ferro que propositadamente tinha deixado abertos...Sabia que isso deixaria completamente fora de si Marta, sempre assim fora, os portões fechados e o muro que cercava a propriedade eram muitas vezes a forma que Marta encontrava para fechar as suas vidas apaixonadas para o exterior. Ao deixá-los assim abertos não só a deixaria irritada como lhe deixava a sensação de libertar toda a sua vida que não queria deixar lá dentro...encarcerada.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Inquietude...

Neste curto período de férias apoderou-se de mim novamente a vontade de escrever. De continuar algo que comecei à cerca de três anos e que tenho deixado "parado"...chama-se Inquietude(título provisório) e deixo aqui um pequeno excerto do III Capítulo...que em boa parte já estava "escrito".



Falta-me o inconstante olhar no futuro,
Onde me canso, gasto e envelheço,
Falta-me ir de encontro ao que não procuro,
Onde me falta o princípio do meu fim,
Onde me recolho na falta, em vez de um começo.
*
Sinto um soberbo desvendar do meu segredo,
Encantado numa volátil brisa tardia,
Fico miserável ao me ocultar no medo,
Sou destroço, pouco mais que nada,
Esperando a chegada da sôfrega melancolia.
*
Talvez cedo de mais para eu por aqui ficar,
E talvez tarde de mais para eu só, partir,
Acolho-me na hora incerta para me tentar,
Num suicídio que ainda me espreita,
Que me deseja neste meu breve sentir.
*
Suspiro na falta da tua e da minha vontade,
Assim como me falta o teu ventre vazio,
Espero que nunca sofras na minha saudade,
Nem recordes aquele que eu não sou,
Lembrando somente quem nunca partiu.
*
Reconheço-te na dor de nós separados,
Como reconheço a sombra que nos persegue,
Julgarei quem nos fez injustos condenados,
Sendo mártir de uma última coragem,
Abrindo um mar onde o nosso amor navegue.

Afonso

Embora sem conseguir prestar muita atenção, tentava compreender o porquê daquele poema, deixado por Afonso naquela manhã em cima da pequena mesa de centro, na ampla e sumptuosa sala.
Lara ainda meio ensonada, dirigiu-se à janela da sua varanda, abriu os estores, olhou para o céu azul e límpido onde o sol soberbo reinava à um bom par de horas. Bocejando, esfregou os olhos, ainda mal habituados à claridade que irrompia agora pela sala meio desarrumada.
Sentou-se no amplo sofá creme, cruzou as pernas. Por um breve momento colocou a folha ao seu lado, olhou em redor. Sorriu, os seus sapatos de salto alto permaneciam espalhados pelo chão da sala. No sofá pequeno ao canto, as suas roupas amarrotadas relembraram-lhe a noite anterior. Tinha sido ali que ela e Afonso tinham feito amor pela primeira vez. Passaram-lhe pela mente, em acelerada retrospectiva todos os momentos tórridos que tinham feito sentir um ao outro. Afonso tinha-lhe telefonado nessa mesma noite. Lara apesar de não estar com muita vontade acabara por aceder a sair com Afonso devido à sua enorme persistência.
Tinham apenas passeado na pequena praia da Torre, bebido um café, conversando mais um pouco, nada de mais.
Quando a trouxera a sua casa, Lara perguntara-lhe se não queria subir, com o pretexto de beber alguma coisa e conhecer a sua casa. Esse era apenas um pretexto, pois tanto Lara, como Afonso sentiam-se imensamente atraídos um pelo outro. Já na praia, naquela tarde o tinham sentido. Como esperava, Afonso tinha dito que sim, não sem antes ter evidenciado uma pequena hesitação, talvez admirado com a franqueza de Lara, talvez por ter partido dela a iniciativa.
Não se sentia incomodada por ter conhecido alguém numa tarde e com essa mesma pessoa ter tido sexo na mesma noite. Embora esse tipo de atitude não fizesse parte dos seus hábitos, Lara desta vez estava à imenso tempo sozinha. Afonso pelo que lhe tinha contado também. Seria verdade? Teria tido alguém à pouco tempo? Ainda estaria com alguém? Deixou de sorrir, pegando na folha de papel com o poema, preparando-se para o ler. Pressentiu que eventualmente estaria ali a resposta a todas essas questões que a assaltavam. Já começara a despertar daquela madorna. E o que estaria a sentir Afonso? Teria gostado tanto quanto ela? Voltou a ler. Continuava não só a não perceber o porquê, bem como o próprio poema. Não era das coisas que mais apreciava, aliás até achava um pouco enfadonho, ler livros, romances, quanto mais poesia. Afonso seria assim? Enfadonho? Tinha percebido que Afonso não era uma pessoa superficial ou fútil e isso agradava-lhe. Imaginou-o um pouco romântico, nessa noite ele tinha-lhe oferecido uma rosa vermelha, a qual permanecia em cima do aparador, no hall de entrada. Talvez até nem lhe tivesse dado a importância devida, mas a fogosidade que Afonso tinha manifestado ao entrar em sua casa não permitiu que a colocasse numa jarra com água.
Pensou... qual a mulher que não gostaria de ter um homem romântico ao seu lado? Sinceramente... Lara era uma mulher demasiado prática, a sua profissão, a sua maneira de viver também não a deixavam ser de outra forma, mas fazia o que gostava, muitíssimo. É claro que dava importância aos preliminares, mas não tanta assim. Gostava de sentir atenção, carinho e adorava todos os jogos de sedução. Afonso tinha acabado de entrar pela sua vida dentro, assim, como um furacão, prático e incisivo...mas romântico. Deixou de ler, colocou a folha novamente sobre a mesa. Não estava com paciência. A hora da manhã também não era a mais propícia, muito menos para leituras daquele género. Perguntar-lhe-ia mais tarde, pessoalmente. Ficaram de almoçar nesse dia. Lara ligar-lhe-ia para a ir buscar assim que estivesse despachada. Levantou-se indolente, espreguiçou-se, foi até ao quarto, pelo caminho ainda tropeçou nos seus próprios passos, meio trôpega. Foi ajeitando o farto e louro cabelo encaracolado. Parou diante do espelho sobreposto ao aparador.
Os seus olhos desceram na direcção da rosa. Tocou-a levemente, sem a mover, enquanto se encaminhou novamente para o seu quarto. Apesar de tudo ainda tinha algumas horas naquela manhã de domingo. Despiu o robe de cetim rosa transparente e deitou-se novamente, sem qualquer intenção de dormir, apenas a de ficar assim, num prolongado relaxamento em cima da sua cama desfeita. Um perfume suave e agridoce, com uma ligeira fragrância a madeira, ainda invadia teimosamente o seu quarto, que se mantinha numa preguiçosa penumbra. O longo cortinado de cor rubi, ocultava por completo a janela entre aberta. Gostava daquele cheiro. Deixou cair a cabeça levemente para o lado esquerdo da cama. Era ali que o odor nascia, um suave odor que lhe deixou uma agradável permissão em se excitar. Cheirava a homem...
Não conseguiu resistir. Acariciou as pernas com as suas mãos suavemente, foi subindo lentamente, enquanto fechava os olhos imaginando que Afonso estivesse ali. Uma das mãos ficou, a outra subiu, percorrendo o que restava do seu corpo até aos desnudados seios, acariciando-os, com algum vigor, como querendo-os despertar. Não ficou aí muito tempo. Começou a lamber e a morder o indicador, enquanto a sua outra mão se mantinha apertada entre as suas pernas, escondendo um dedo laborioso. Sentia o calor a subir pelo seu corpo, abriu as pernas devagar como se estivesse preparada para ser penetrada, assim fez, colocando dois dedos no interior da humedecida vagina. Num vai vem lento, de prazer, levantou os joelhos alternadamente. Depois fê-lo mais frenética e energicamente, enquanto da sua boca saíam lânguidos e longos sons de prazer. Enquanto mordia os lábios, soltou um sorriso imenso de satisfação sem abrir os olhos, tinha acabado de ter um orgasmo. Estendeu o seu braço esquerdo na direcção onde Afonso tinha adormecido na noite anterior, imaginando-o ali...acabou também por adormecer. "