Esta é uma história que oiço sobre ninguém,
Está aqui descrita por um nobre ancião,
Velho e parco nas palavras de desdém,
Sujo e andrajoso no caminho da escuridão.
*
Já não lembra que esteve nos dias de glória,
Nem ouve suas crianças e mulher a chorar,
Sem lápides ou cemitério, sem sua memória,
Lágrima não cai, só tempestade que viu chegar.
*
Eu também vou suplicar por uma nova era,
Vou ajoelhar-me perante estes jovens deuses,
Erguendo meu olhar aos céus desta quimera,
Enjaulado no futuro, não vivendo por vezes.
*
As nossas almas são sombras brancas serenas,
As correntes quebro-as, grilhetas de sorte comum,
Os loucos no arco-íris, à espera de nada, apenas
Liberto-me do meu corpo, morro em lado algum.
*
Os dias seguintes virão em chamas aclamar,
Receio que não vá mais ouvir os velhos magos,
Dos padres perversos a minha alma quero levar,
Cínicos no hábito, ou hipócritas desabituados.
*
São o mesmo, os teus reis e os meus vagabundos,
A crença está apenas em vil pergaminho escrita,
Fugitivos sem aventura, terminam os mundos,
Assassinos, são o caos determinado em desdita.
*
Anjos negros, montados em corcéis de negrume,
O que conheço perece, o que esqueço é agonia,
Rastejo mortalmente por entre rasgos deste lume,
Vence o caos, ganha a lenda que leva a melancolia.
*
Sinto os risos sarcásticos da minha juventude derrotada,
Já não consigo enraivecer, desfaleço no ódio dormente,
Adormeço o destino, por último piso a terra queimada,
Abraças-me enquanto morro nos teus braços indiferente.
*
Dead Body 1986
Sem comentários:
Enviar um comentário