quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Pedaços


Naquele estranho lugar onde eu nasci,
Onde os homens se ajoelham nos rituais,
Onde os espelhos mentem como iguais,
Existe um único caminho que eu percorri,
Uma certeza que não se chama saudade,
Mães que nos acolhem em beijos ingratos,
Soldados que atiram sobre os insensatos,
Pobres famintos que mendigam a vaidade,

*

Naquele estranho lugar onde eu cresci,
Crescem flores nos buracos do alcatrão,
Morrem os amores e as pétalas pelo chão,
Desintegram-se pedaços do nada que vivi,
Crianças que estropiam lágrimas perdidas,
Nos olhos cintilantes das noites sem gente,
Por entre as mãos sujas, por entre feridas,
Renasço eu de um anjo negro indiferente,

*

Daquele estranho lugar de onde eu cheguei,
Trouxe a memória de um outro vazio repleto,
Esta ganância que arrastei por este trajecto,
É soberba e generosa, foi por ela que ultrajei,
Tanto quis o silêncio, tanta vez fugi de mim,
Servi como os outros para ser quem não quis,
Dos meus e de outros pedaços assim eu me fiz,
Fui o princípio de tudo e de nada sou meu fim.


*
JMC In Redenção

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