quarta-feira, 4 de junho de 2008

Máquina do tempo


A colisão dos tempos é insaciável e a derrota chega devagar,
Os sinais foram dispersos e os anjos nunca aqui estiveram,
Os homens não progridem e os chacais começam a chegar,
Longas vão ser as noites, gélidas de uma estação de abismo,
Ainda agora sucumbiram os algemados, os que não souberam,
Sorrir e dançar na ironia de um destino de fraterno cinismo.
*
Os enigmas sôfregos de um final são apenas um leviano começo,
O meu corpo é devassa nossa e a minha pele o princípio de ti,
Não me recordes desse caos, que é sangue onde eu me esqueço,
Não me dês regras à liberdade, eu sei quem ficará para nos contar,
A máquina do tempo afinal não existe e este meu sonho acaba aí,
Onde os peregrinos se perderam, onde eu vi as mães a chorar.
*
Ensurdeço, as vozes discordantes no uníssono de preces sagradas,
Aos deuses erguem-se as faces lívidas de ser apenas sobrevivente,
Abastadas na esperança que rareia, afastadas de outra condição,
Os senhores de outros, com destino igual nas vidas condenadas,
Babel é a torre sem regresso, é pedra sobre pedra, cimo indigente,
Ruína constante na fraude humana, cálculo despido sem razão.
*
Seguidores de tempos perdidos, descalços de caminho indeciso,
Pérfidas serpentes rastejam no paraíso que de azul nem o céu,
Temo apenas deixar os últimos, os que ficam para o final juízo,
Os que temem os sacerdotes, os templos e o tempo que se finda,
Homens que são lanças, mulheres que nascem atrás de um véu,
Temo o altar do sacrifício, a máquina que é do nosso tempo ainda.
*
JMC.

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