sábado, 14 de junho de 2008

Linhas.


Nestas linhas bruscas, paralelas, vislumbro a tua coragem,
Levam-me neste trem, onde deixo a minha vida adiante,
Nas tuas mãos eu sigo sem medo de interromper a viagem,
Sem amarguras ou tristezas que me foram uma constante.
*
Embarques, desembarques, a minha outra vida ficou distante,
Estou de mãos vazias, estou pobre, mas não viajo em vão,
Espero-te nesta linha, sem querer mais que um teu instante,
Viajando comigo, descendo a meu lado na mesma estação.
*
Circulo já sem querer a saudade do que foi meu passado,
Prevejo o aço frio deste novo caminho de ferro com sentido,
Prevejo a fantasia de um sem rumo como fui anunciado,
Cerro os olhos para te sonhar, dou-te o meu corpo despido.
*
Em cada paragem deixo-me esvair por me sentir atrasado,
A paisagem faz-me a mudança em tempo que eu acho fugaz,
Felicita-me por estar a caminho e o comboio quase parado,
Desafia-me a esperança e a tua espera que me deixa incapaz.
*
A última estação fica no infinito desta linha que eu imaginei,
És o meu único trajecto, a demora que em nós quis acreditar,
Quem descobriu esta linha férrea foi um amor que eu sonhei,
Um desejo que sobreviveu, um doce querer de em ti viajar.
*
JMC In Redenção

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