Acordei, no meu sonho que se desvanece,
Dissipando-se volátil no lúgubre nevoeiro,
No trágico cadafalso,
O meu algoz que de nós todos escarnece,
O povo que aqui chega aos magotes, ordeiro.
*
Vou assistir à minha infindável punição,
Vou sorrir ao castigo, antes de me findar,
Perdoar aos juízes,
Que, não sabendo, me oferecem a redenção,
No cinismo de que me podem acusar.
*
Ganho asas na brisa que se afugenta,
Dou o meu sangue a beber aos chacais,
Vampiros sedentos
Infligem-me o punhal que não me atormenta,
Sem a dor, nem o sofrimento dos demais.
*
Ainda espero o efémero resgate da alma,
Ouvindo o uivar dos lobos meus aliados,
Meus amigos irmãos,
Chorando na noite que me chega calma,
Ao murmúrio da lua que nos deixa enfeitiçados.
*
Permanecem na floresta dos meus receios,
Onde na sua matilha eu me fiz punir,
Entregando-me à lei,
Erguendo-me no orgulho dos meus anseios,
Julgando-me para não mais fugir.
*
2006 JMC in Punição
Sem comentários:
Enviar um comentário