quinta-feira, 16 de abril de 2009

Anjos.


Estivemos longe, num amor ausente,
Andámos sós, por entre a multidão,
Hoje temos a vida à nossa frente,
Não temos mais a nossa solidão.
*
Sentes a chuva de prata na tua face?
Sentes a brisa que nos chega do mar?
São as testemunhas do nosso enlace,
São os Anjos que nos vêem procurar.
*
São pelas estrelas do céu enviados,
Para nos deixarem o amor a sorrir,
Sentem os nossos beijos desejados,
E o nosso filho que está para vir.
*
Trazem-nos a luz que já nos faltou,
Nos caminhos em que nos perdemos,
Lugares onde eu nunca mais vou...
Procurar quem nunca conhecemos.
*
Temos um sorriso em cada momento,
Olhares sem limites, ou qualquer fim,
Nós os dois somos um só sentimento,
O que te dou a ti, o que me dás a mim.
*
Agora já podem os Anjos um dia partir,
Já as nossas almas estão entrelaçadas,
Que a solidão não vamos mais sentir,
Nem as nossas vidas desperdiçadas.

Dia seguinte


Esta é uma história que oiço sobre ninguém,
Está aqui descrita por um nobre ancião,
Velho e parco nas palavras de desdém,
Sujo e andrajoso no caminho da escuridão.
*
Já não lembra que esteve nos dias de glória,
Nem ouve suas crianças e mulher a chorar,
Sem lápides ou cemitério, sem sua memória,
Lágrima não cai, só tempestade que viu chegar.
*
Eu também vou suplicar por uma nova era,
Vou ajoelhar-me perante estes jovens deuses,
Erguendo meu olhar aos céus desta quimera,
Enjaulado no futuro, não vivendo por vezes.
*
As nossas almas são sombras brancas serenas,
As correntes quebro-as, grilhetas de sorte comum,
Os loucos no arco-íris, à espera de nada, apenas
Liberto-me do meu corpo, morro em lado algum.
*
Os dias seguintes virão em chamas aclamar,
Receio que não vá mais ouvir os velhos magos,
Dos padres perversos a minha alma quero levar,
Cínicos no hábito, ou hipócritas desabituados.
*
São o mesmo, os teus reis e os meus vagabundos,
A crença está apenas em vil pergaminho escrita,
Fugitivos sem aventura, terminam os mundos,
Assassinos, são o caos determinado em desdita.
*
Anjos negros, montados em corcéis de negrume,
O que conheço perece, o que esqueço é agonia,
Rastejo mortalmente por entre rasgos deste lume,
Vence o caos, ganha a lenda que leva a melancolia.
*
Sinto os risos sarcásticos da minha juventude derrotada,
Já não consigo enraivecer, desfaleço no ódio dormente,
Adormeço o destino, por último piso a terra queimada,
Abraças-me enquanto morro nos teus braços indiferente.
*
Dead Body 1986

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Cumplicidade.




Encontrei-me em ti, numa noite que foi pequena,
O silêncio foi tormento, o teu olhar foi a minha cor,
Meu corpo tremeu, as minhas mãos perderam-se,
Fomos ao firmamento em nossa viagem serena,
Voltámos crianças, perdi o medo, rimos do amor,
*
Fizemos caminhos, enquanto crescemos lado a lado,
Criámos atalhos por onde podemos vir a espreitar,
Demos as mãos, demos um filho que nós queremos,
À vida dissemos que não receasse o que nos tem dado,
Dissemos ao destino que é lá que nos vamos encontrar.
*
Existiu um acaso luminoso que finda em arco íris,
Seu começo é onde tu e eu nascemos cumplicidade,
Sabendo quase nada, querendo saber quando chegar,
As horas e o tempo são agora como eu sempre quis,
E tu és a mulher de quem eu sempre tive a saudade.
JMC In Redenção

terça-feira, 14 de abril de 2009

Vaguear.

Enquanto vejo lá fora a chuva que teima em aqui cair,
Lembro-me como era antes de te conhecer, antes de sorrir,
Onde ficavam as minhas incertezas e o não te conhecer,
Esse tempo já faz parte do passado, não quero mais saber,
Algum dia tinhas de ficar ao meu lado, algum dia seria.
*

Vaguear, não o vou mais fazer, não vou sequer me lembrar,
Vou amar-te para sempre, contigo vou dar a volta ao mundo,
Dou Graça(s) por me teres encontrado, por eu ainda aqui estar,
Vaguear, não sei já o que isso é, não sou mais um vagabundo.
O tempo corre a nosso favor, incrivelmente assim tão devagar,
E eu vou dar-te aquilo que eu nunca te dei, assim por eu te amar.
*
Um conto ou um pequeno feitiço, algo assim aqui aconteceu,
As certezas agora sei que existem, são como dias de sol, reais,
Agora quero-te como sempre te quis, agora ainda te quero mais.
Vou estar sempre aqui ao pé de ti, dar-te o que ninguém te deu.
Vaguear, fui por caminhos que não me levaram a lado nenhum,
Foste tu que me encontraste aqui, onde estava sem um sentido,
Dou Graça(s) por tu me teres acordado de um sonho perdido.
*
Vaguear, não quero nem saber, nós os dois sempre fomos um.
És tu que reinas agora nos meus sonhos, és tu quem eu sonho.
És tu quem não sai mais da minha vida, és tu quem eu amo.
Vaguear, não quero nem saber…

O Sonso...comum...



Existem em todo o lado, às vezes, também nós caímos nessa vil tentação, de não perturbar, de não incomodar, de deixar passar em claro, situações, pessoas, para não ferir susceptibilidades, de não magoar, de não arranjar guerras.... Ora bem, hoje como acordei com a minha susceptibilidade aflorada, vou deixar aqui bem explícito, para os bons, maus e entendedores assim assim, que a minha tolerância nem sempre é de valor ou prazo ilimitado. Existem pessoas que dizem frontalmente que padecem de mau feitio. Umas têm e utilizam-no. Outras têm e não fazem uso dele regularmente, outras dizem isso e afinal era apenas uma defesa... Eu tenho o meu feitio. Reconheço que devido a esse meu feitio não tenho sido uma pessoa fácil, mas se eu quisesse isso, uma vida fácil, teria enveredado pela prostituição... Nunca me dei bem com a falsidade, mas hoje em dia, temo reconhecê-la mais facilmente que a aparência...principalmente a de um sonso... Prefiro enfrentar uma pessoa má a uma manhosa, a uma dissimulada ou com ares de aparência ingénua... Por razões meramente circunstanciais, não costumo dar crédito a frases feitas, ou cair noutra tentação absurda de comparar situações ou pessoas com provérbios, aliás gosto sempre de lhes dar outro caminho, utilizando para isso outras frases tão absurdas como a original. Lá dizia o outro, em terra de cegos quem tem olho não é rei, é zarolho... por isso gosto de me identificar como...sou maluco, mas não sou estúpido...nem pouco mais ou menos... A minha actividade profissional, desenvolve-se na área comercial, e aboli por completo a frase, O cliente tem sempre razão?!?...Falso!!! O cliente quando não tem, tem de ser confrontado com isso! Passando à frente, não sejam sonsos, sejam, bonzinhos, sejam mauzinhos, mas sejam verdadeiros...mesmo que a vida vos tenha transformado em frustrados ou desiludidos. Eu assumo, tenho as minhas frustrações, já tive e provavelmente voltarei a ter algumas desilusões...mas nunca serei um sonso, e espero ter sempre clarividência para os conseguir identificar...O senso comum adquire-se, o sonso comum incomoda... Se não quiserem dizer aquilo que são, ao menos estejam calados...ao menos não ameacem, façam-no mesmo...Os suicídios verdadeiros, são sempre uma notícia fatal, nunca um anúncio...do que pretendem fazer...até lá vou apelando a minha paciência...

terça-feira, 7 de abril de 2009

Hoje


Hoje eu sei porque sinto dias melhores,

Compreendo o cheiro da tua terra molhada,

Sei que a brisa me traz noites maiores,

Cumpridas em doces carícias,

Hoje eu sei o que é a paixão acordada.

*

Hoje eu sei porque te tinha inventado,

Sem tu saberes, que eras asa de desejo,

A vida sobrou-me por ter-te encontrado,

Deixou-me tempo, deixou-me...vida,

E hoje reconheço-me no que em ti vejo.

*

Hoje é dia, é noite que inicia a madrugada,

Hoje iluminas o meu querer, o meu estar,

Foste ontem sem eu saber, apaixonada,

És hoje outra vez, sem ser apenas uma,

Sem ser só amanhã no amor por inventar.

*

Hoje tenho este amor e quero-te semear,

Quero-te como minha doce seara constante,

Plantada na planície, deixa-me aqui ficar,

Onde o sol nos aquece a paixão,

Onde queremos deixar o passado distante.

JMC




sábado, 4 de abril de 2009

Passos


Os teus passos firmes no chão do nosso caminho,

Os meus que os acompanham sem ter de te seguir,

São seguros depois do tempo em que fui sozinho,

Procurar por ti nos passos em que não vou desistir.


*


Hoje são passos que conhecem a nossa direcção,

Mesmo descalços nos nossos pés desnudados,

Caminham, deixando pegadas no mesmo chão,

Por onde estes caminhos nunca foram pisados.


*


Hoje eu não receio onde eles nos podem levar,

Sei que iremos nós os dois sentir este trajecto,

Quero reconhecer as tuas marcas nesse andar,

Quero dar contigo o passo que seja mais certo.


*


Pisámos espinhos que deixámos no passado,

Deixámos um rasto de nós na areia molhada,

As marés foram generosas deixando apagado,

O rumo que vinha na dor da nossa caminhada.


*



Dedicado a ti, Buterfly Purple!

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Fogo inesquecível.


Sinto o flamejante olhar que se repete,
Sinto-te pele da minha pele, quente,
Fogo-fátuo que sem lugar nos promete,
Fogo sem dono, que nos morde devagar,
Não sei da arma de fogo que não sente,
Nem dos homens que me vieram acabar.
*
Acendemos longe aquele fogo de artifício,
Mesmo assim ele vem cercar-me a alma,
Montado no gélido e tempestuoso vento,
Passageiro que se extingue no sacrifício,
Irmão qualquer de chama que nos acalma,
Filho bastardo de um inesquecível tempo.
*
Conheço o demónio que em si o guarda,
Desconheço-me rebelde nas rubras chamas,
Não esperei em vão por um dia que me tarda,
Debrucei-me no abismo sem nunca cair,
Enquanto as lágrimas tuas que me amas,
Caem pétalas púrpuras na luz do meu sorrir.
*
Pego-me a ti, num fogo inesquecível,
Num fogo sem rédea, sempre que tu vais,
Amamo-nos neste olhar, neste sem querer,
Faço-te a minha única e chama impossível,
Neste vil banquete onde se acendem castiçais,
Apagam-se fogos que não deviam nunca arder.
*
Vemos o último fogo inconsequente e sagaz,
Cobardemente caído em cinza que eu mereço,
Mesmo incessante de tudo e de nada capaz,
Nos braços ténues que em seu lume eu nasci,
Entendo-o agora, ao passado a que não pertenço,
Vens tu comigo porque foi por ti que me acendi.
*
Incendeia-me quando e sempre me quiseres,
Acorda-me e deixa-me aos teus lábios eu dizer,
Que eu existo neste nosso fogo novamente,
Onde chamas já não são receio de me perderes,
Onde não existe mar que separe nosso querer,
Onde se acende este fogo que arde para sempre.
*
JMC In Redenção