Existe um homem, mendigo,
Sentado na beira da rua fria,
Ele sempre me pede,
E eu sempre lhe digo,
Que a vida também a tenho vazia.
*
Dá-me sempre um sorriso,
Sorrateiro, e eu nada lhe dou,
Segue-me na troca do olhar,
E eu vejo-o num aviso,
Pois ele sabe quem eu não sou.
*
Disfarço-me no passo acelerado,
Sei que veio de onde eu venho,
Procuro a moeda em vão,
Ele continua sentado,
E eu com a pressa que não tenho.
*
É maltrapilho, farrapo vestido,
Talvez não vá para onde eu vou,
Da vida pouco lhe sobra,
Estende a mão no meu sentido,
E eu finjo que aqui não estou.
*
Deixa-me por outro a mim igual,
E diz-lhe a mesma fome que tem,
A moeda é negada na semelhança,
Eu não desisto da pressa e do mal,
E nego-o na vida que comigo vem.
Myself
-
Eu me contradigo? Pois muito bem, eu me contradigo. Sou extenso, contenho
multidões.
Walt Whitman
Há 7 anos
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