quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Vagabundo.

Existe um homem, mendigo,
Sentado na beira da rua fria,
Ele sempre me pede,
E eu sempre lhe digo,
Que a vida também a tenho vazia.

*

Dá-me sempre um sorriso,
Sorrateiro, e eu nada lhe dou,
Segue-me na troca do olhar,
E eu vejo-o num aviso,
Pois ele sabe quem eu não sou.

*
Disfarço-me no passo acelerado,
Sei que veio de onde eu venho,
Procuro a moeda em vão,
Ele continua sentado,
E eu com a pressa que não tenho.

*
É maltrapilho, farrapo vestido,
Talvez não vá para onde eu vou,
Da vida pouco lhe sobra,
Estende a mão no meu sentido,
E eu finjo que aqui não estou.

*
Deixa-me por outro a mim igual,
E diz-lhe a mesma fome que tem,
A moeda é negada na semelhança,
Eu não desisto da pressa e do mal,
E nego-o na vida que comigo vem.