Os poetas são como as barcas
E as caravelas, sulcando oceanos,
São mares navegados de espuma,
São vagas dos seus e meus enganos, São marés de coisa nenhuma.
*
São ilhas de areias brancas,
São pontes sem margens,
Maremotos e ciclones alheios,
Ventos fortes e miragens,
Náufragos nos seus anseios.
*
Navegadores de estreitos,
Pensadores da ideia embarcada,
São marinheiros chorados
Por uma sereia enfeitiçada,
No fundo dos versos afogados.
*
São intrusos das almas,
Conquistadores da bruma,
Nevoeiro e névoa cinzenta,
Inventam a lenda alguma,
No delírio que nos inventa.
*
São uma corrente enganosa,
Ou um infortúnio entristecido,
Choram e riem destas mágoas,
Sonham ser o pobre enriquecido,
Acalmam suas rebeldes águas.
JMC In Punição